segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Sorriso de Monalisa - A professora

Esta é a história de Katherine Watson em Wellesley, onde vai lecionar História da Arte no ano letivo 1953/54.
Em sua primeira aula, as alunas evidenciam sua inadequação para os padrões da escola, antecipando os temas ligados às obras de arte que a professora mostrará em slides, de maneira a demonstrar que já sabem tudo e que a professora está fora de contexto. As alunas e seus pais, muitos dos quais fazem parte da Diretoria da escola, definem o que se deve fazer, estudar e acreditar ali.
Bem marcado no tempo, o ano letivo transcorre entre aulas, brincadeiras tradicionais, o baile, as férias, o encontro de garotos e garotas procurando o amor, o casamento de uma das alunas e seus preparativos, a ação e a relação dos pais com a escola e a vida dos jovens, enfim, os vários marcos da vida estudantil, que vão trazendo à tona cada personagem, seu drama, suas respostas à vida, suas crises e suas soluções.
Aquele desejo expresso no início do ano letivo, de forma quase ritualística será verdadeiro?
- “...despertar meu espírito por meio de muito trabalho e dedicar minha vida ao conhecimento
A aula inicial aparentemente conduz a esta conclusão: as alunas decoraram a apostila do Dr Staunton, utilizada como base para o curso de História da Arte, da Profa. Katherine, e descrevem cada peça de arte que Katherine lhes mostra, detalhando aspectos da pintura, pontos marcantes, época em que foi a obra criada ou encontrada, enfim, estão aparentemente “dedicadas ao conhecimento”.
Katherine se sente acuada. A Diretoria a chama para uma reunião, onde é discutida sua tese, em que ela defende que “Picasso fará pelo Século XX o que Michelangelo fez pela Renascença”. Eles pouco se concentram nas suas idéias e questionam seu conhecimento da Capela Sistina. Ela diz desconhecer a Europa e a reprovação é imediata. O sistema “fecha” Katherine embora ela não sucumba, não naquele momento.
Esta cena serve destacar que o sistema é inflexível em sua moral e em suas regras e é preciso saber “jogar” com ele para não ser “consumido” por ele. A própria discussão sobre a Capela Sistina e Michelangelo ajudará nisso.
Quando Michelangelo pintou a Capela Sistina, em Milão, em 1508, desenhou corpos nus. Ao completar sua obra, em 1512, as imagens chocaram aos mais conservadores, pois nelas haviam corpos despidos. Mais tarde outros pintores foram contratados para cobrir com vestes estas imagens...
O esforço todo de Katherine será dirigido para levar as alunas a se interessarem vivamente por arte e, através deste interesse, construírem a si próprias enquanto pessoas que tem opiniões pessoais, que gostam ou odeiam, e que se posicionam sobre o que está à sua volta, em vez de seguir padrões estabelecidos.
O filme continua com o confronto de Katherine com as alunas e as crenças e valores de suas famílias, até que a própria Katherine se vê envolvida, ela própria, na escolha do amor ou da carreira, e sai em busca desta última, deixando porém na escola uma lembrança forte e entre as alunas uma carinhosa memória.
Julia Roberts como Katherine mantém uma atitude calma e reflexiva em grande parte das cenas. Seu desapontamento com as alunas não se traduz em uma expressão mais agressiva, como que “digerindo” as situações. Ao final, a personagem é considerada “querida” mas fica um gosto de algo inacabado.
As garotas, seguindo o táxi em que Katherine parte, ao final, pode ser um aparente final feliz, mas realmente, mostra um conjunto de mulheres que conduzirá suas vidas dentro dos padrões tradicionais, tristes por terem conhecido a possibilidade de sua independência mas inconsistentes com esta possibilidade por força de uma sexualidade de gosto duvidoso e de valores sociais sem sentido.
Katherine também não encontra um sentido claro. Na interação com as garotas, ela vai se descobrindo e se redefinindo, mas não chega a um traçado claro e sai, enigmática, como chegou.
Mesmo no final, não é clara a sua atitude de vencedora ou perdedora. Deve ser destacada, contudo, sua permanente intenção de educar, de formar seres humanos plenos e abertos ao mundo.

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